O Evangelho de João, também chamado de quarto evangelho, deve ser lido em diferentes níveis diferenciando dois aspectos: a narrativa da história de Jesus e a história da comunidade que cria
nele. Essa comunidade atravessa momentos diferentes de contato com o evangelho, momentos esses que podemos chamar de fases.
Quatro seriam as fases da vida na comunidade joanina: a era
pré-evangélica nas origens da comunidade; a vida na comunidade na época que o
evangelho foi escrito; a vida nas comunidades na época em que foram escritas as
cartas; e a dissolução dos dois grupos joaninos depois das três cartas.
A primeira fase é anterior ao evangelho. Nela encontramos
duas cristologias sendo formadas e que tem grande relevância para o
entendimento da teologia joanina. A primeira é a cristologia “baixa” que parte
dos aspectos humanos de Jesus onde se aplicam títulos derivados do AT como
Messias e Profeta e o nascimento virginal do messias; a segunda é chamada cristologia “alta” ou “elevada” que coloca Jesus numa esfera de divindade, onde Cristo é
chamado de Deus ou Filho de Deus ou Salvador do Mundo.
Essa primeira fase onde existe uma “cristologia baixa” se dá
quando os primeiros discípulos (que eram judeus) se juntam a Jesus e o
reconhecem como o Messias e quando os discípulos de João Batista também se unem à
comunidade joanina. A entrada de um segundo grupo de cristãos joaninos na
comunidade leva essa cristologia a um padrão mais elevado onde Cristo já passa
a ser visto como Deus dando início a um grave conflito com os judeus. Supõe-se
que esse segundo grupo constava de judeus com opinião formada contra o Templo,
que converteram samaritanos e assimilaram alguns elementos do pensamento
samaritano inclusive uma cristologia que não era centralizada num Messias
davídico. A inserção dos gentios na igreja cristã deu uma visão mais
universalista ao cristianismo ("Porque Deus amou o mundo" e não a A ou B). Nessa fase da alta cristologia João é bem mais
incisivo do que Paulo no que tange à preexistência de Jesus.
A segunda fase se dá no tempo que o evangelho foi escrito
onde podemos perceber uma certa animosidade entre os não-crentes e os cristãos
joaninos o que foi afastando o grupo cada vez mais do restante do mundo. Os
judeus cristãos rejeitavam a alta cristologia pois a consideravam uma
descrença o que levou a um rompimento.
A terceira fase abarca o tempo em que as epístolas foram
escritas quando grupos de discípulos de João começam a interpretar o evangelho de
maneiras divergentes e o autor, agora denominado presbítero, escreve às igrejas
alertando sobre a verdadeira interpretação do evangelho e contra os
separatistas, anticristos e falsos profetas. Os problemas se davam principalmente
no campo da cristologia, ética, escatologia e pneumologia.
Na quarta fase, após a escrita das epístolas, vemos que para
poder combater os separatistas, alguns adeptos do autor aceitaram a necessidade
de mestres oficiais com autoridade, forma praticada pela Igreja Apostólica à
qual se uniram que por sua vez levando consigo a alta cristologia da
preexistência. Os separatistas que aparentemente alcançaram um grande número de
crentes se encaminharam para o gnosticismo levando o 4º evangelho e sua errônea
interpretação.
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