sábado, 4 de agosto de 2012

Resumo: A Comunidade do Discípulo Amado. Raymond E. Brown; Ed. Paulus



       O Evangelho de João, também chamado de quarto evangelho, deve ser lido em diferentes níveis diferenciando dois aspectos: a narrativa da história de Jesus e a história da comunidade que cria nele. Essa comunidade atravessa momentos diferentes de contato com o evangelho, momentos esses que podemos chamar de fases.
      Quatro seriam as fases da vida na comunidade joanina: a era pré-evangélica nas origens da comunidade; a vida na comunidade na época que o evangelho foi escrito; a vida nas comunidades na época em que foram escritas as cartas; e a dissolução dos dois grupos joaninos depois das três cartas.
       A primeira fase é anterior ao evangelho. Nela encontramos duas cristologias sendo formadas e que tem grande relevância para o entendimento da teologia joanina. A primeira é a cristologia “baixa” que parte dos aspectos humanos de Jesus onde se aplicam títulos derivados do AT como Messias e Profeta e o nascimento virginal do messias; a segunda é chamada cristologia “alta” ou “elevada” que coloca Jesus numa esfera de divindade, onde Cristo é chamado de Deus ou Filho de Deus ou Salvador do Mundo.
     Essa primeira fase onde existe uma “cristologia baixa” se dá quando os primeiros discípulos (que eram judeus) se juntam a Jesus e o reconhecem como o Messias e quando os discípulos de João Batista também se unem à comunidade joanina. A entrada de um segundo grupo de cristãos joaninos na comunidade leva essa cristologia a um padrão mais elevado onde Cristo já passa a ser visto como Deus dando início a um grave conflito com os judeus. Supõe-se que esse segundo grupo constava de judeus com opinião formada contra o Templo, que converteram samaritanos e assimilaram alguns elementos do pensamento samaritano inclusive uma cristologia que não era centralizada num Messias davídico. A inserção dos gentios na igreja cristã deu uma visão mais universalista ao cristianismo ("Porque Deus amou o mundo" e não a A ou B). Nessa fase da alta cristologia João é bem mais incisivo do que Paulo no que tange à preexistência de Jesus.
        A segunda fase se dá no tempo que o evangelho foi escrito onde podemos perceber uma certa animosidade entre os não-crentes e os cristãos joaninos o que foi afastando o grupo cada vez mais do restante do mundo. Os judeus cristãos rejeitavam a alta cristologia pois a consideravam uma descrença o que levou a um rompimento.
         A terceira fase abarca o tempo em que as epístolas foram escritas quando grupos de discípulos de João começam a interpretar o evangelho de maneiras divergentes e o autor, agora denominado presbítero, escreve às igrejas alertando sobre a verdadeira interpretação do evangelho e contra os separatistas, anticristos e falsos profetas. Os problemas se davam principalmente no campo da cristologia, ética, escatologia e pneumologia.
      Na quarta fase, após a escrita das epístolas, vemos que para poder combater os separatistas, alguns adeptos do autor aceitaram a necessidade de mestres oficiais com autoridade, forma praticada pela Igreja Apostólica à qual se uniram que por sua vez levando consigo a alta cristologia da preexistência. Os separatistas que aparentemente alcançaram um grande número de crentes se encaminharam para o gnosticismo levando o 4º evangelho e sua errônea interpretação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário